O Cinturão de Kuiper é uma região do Sistema Solar localizada além dos limites da órbita de Netuno e povoada por gelo e corpos rochosos. É no cinturão de Kuiper que se encontram os planetas anões Plutão, Makemake, Eris e o menos conhecido deles: Haumea.
Apesar de não possuir a mesma fama que seu primo Plutão, Haumea tinha motivos para chamar a atenção: seu formato alongado e sua rápida rotação (com período de 3,9 horas - bastante incomum para objetos com mais de 100km de diâmetro) o tornam um objeto celeste bastante peculiar. Agora, o resultado das observações da ocultação de uma estrela distante por Haumea adicionaram mais uma peculiaridade ao pequeno planeta: a presença de um anel circundando o objeto.
O estudo publicado na revista Nature foi conduzido pelo Instituto de Astrofísica da Andaluzia (Espanha) e teve participação de astrônomos e estudantes brasileiros do Observatório Nacional, Observatório do Valongo e UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) filiados ao LIneA (Laboratório Interinstitucional de e-Astronomia). O trabalho registra os resultados da observação da ocultação da estrela URAT1 533-182543 por Haumea em 12 telescópios em diferentes observatórios no dia 21 de janeiro de 2017.
Ocultações de estrelas por asteróides, planetas, satélites e planetas anões são uma poderosa ferramenta observacional. Ao observar as variações na luz de uma estrela distante ao ser eclipsada por um corpo em nosso sistema solar é possível estudar a forma e detectar a presença de atmosfera, satélites e anéis ao redor destes corpos.
Além de revelar o anel, com largura de 70km e raio 2284 km orbitando no plano do seu equador, a ocultação causada por Haumea permitiu também determinar com mais precisão suas dimensões, estabelecendo que seu eixo maior mede no mínimo 2322 km. Valor acima das estimativas anteriores e próximo do diâmetro de Plutão. Não foram detectados traços de atmosfera.
O grupo brasileiro trabalhou na previsão da ocultação e na análise dos dados que levaram à confirmação da presença do anel.
Com a descoberta, Haumea torna-se o primeiro objeto transnetuniano (além da órbita de Netuno) conhecido a exibir anéis.