Imagine que um biólogo gostaria de estudar a evolução do corpo humano, da formação até a morte. O que parece fazer mais sentido: observar uma pessoa por quase uma centena de anos, ou muitas pessoas em ambientes similares e diferentes estágios de vida?
Se você apostou na segunda opção, seguiu o método utilizado pela astronomia: para entender o ciclo de vida estelar, ao invés de falharmos miseravelmente tentando observar uma única estrela por toda sua vida (que dura bilhões de anos), podemos procurar por populações de estrelas em um mesmo ambiente e em diferentes estágios evolutivos.
Aglomerados globulares são os objetos celestes mais próximos de um laboratório estelar no universo. Consistem justamente em uma população de estrelas em diferentes estágios de vida em um "ambiente controlado" (aproximadamente a mesma idade, formaram-se do mesmo material e estão todas à mesma distância da Terra) e são um dos elementos chave utilizados para o estudo de evolução estelar e estimativa da idade do universo.
Esse tipo de aglomerado é um dos objetos mais antigos de todo o universo - tão antigos que a incerteza em sua idade estimada fazia com que alguns parecessem ser mais velhos do que o próprio universo.
Como objetos astronômicos são impossíveis de serem capturados e estudados em laboratório, a astronomia evoluiu através do estudo de características que podem ser mensuradas de longe, como luz e distância.
Estique a mão à sua frente, levante o dedo indicador e mantenha-o imóvel. Feche o olho esquerdo e repare na posição do seu dedo em relação ao plano de fundo que ele se encontra (como uma parede). Abra o olho esquerdo e feche o direito. Notou como a posição do seu dedo em relação ao fundo pareceu mudar? Essa é a versão rústica do método da paralaxe, utilizado para medir objetos a distâncias astronômicas.
Troque o dedo por um objeto celeste além do Sistema Solar, os olhos pelo planeta Terra em diferentes posições de sua órbita, e adicione uma boa quantidade de precisão, afinal os dois pontos de vista não estão mais separados por um nariz e sim pelos quase 300 milhões de quilômetros de diâmetro da órbita terrestre. Medindo esta mudança aparente na posição do alvo, é possível estimar sua distância até nós por meio de geometria.
Distâncias astronômicas podem ser estimadas também a partir da luminosidade e cor de uma estrela, mas este método pode apresentar uma margem de erro de até 20% e causar resultados um tanto quanto estranhos, como aglomerados estelares com idade estimada maior do que a idade do próprio universo.
Com o auxílio do telescópio espacial Hubble, foi com uma combinação entre o método da paralaxe e a observação de variáveis Cefeidas (estrelas que agem como um marcador de tempo e luminosidade no céu) que a distância até o aglomerado globular NGC6397 foi mensurada com margem de erro de 3%, fazendo desta a medida mais precisa da atualidade. Para chegar ao resultado, foram feitas 4 medidas a cada seis meses.
O aglomerado globular NGC6397 teve sua distância medida em 7.800 anos-luz e idade de 13,4 bilhões de anos. (Lembrando que o universo tem idade estimada em 13,7 bilhões de anos)
A equipe espera que, ao combinar medidas do telescópio Hubble com o telescópio espacial Gaia (ESA), os resultados sejam obtidos com margem de erro de 1%. Uma segunda leva de medidas está prevista para Abril/2018.
por: Natália Palivanas [Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.]
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